quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
palavra líquida
hoje eu teria tomado qualquer dose, desde que fosse de você. queria te ter fluído, denso, ardente, do meu lado, perto mim...dentro de mim. queria te tomar num copo bem cheio, até entornar. queria você nas minhas entradas, nas minhas entranhas. queria ver você me molhar. queria te ter escorrendo pelo meu corpo, descendo dos olhos em lágrima, salgando a minha boca, se perdendo em minha língua, nos excitando com o esguicho da palavra. queria ver você salivar ao olhar, reinventando outras curvas, jorrando sem curso, abusando do percurso só pra me aguar. queria te ver explodir em gozo, transcendendo o que é corpo, caindo em líquidos, fluindo em rios, criando novos recursos hídricos pra me fazer transbordar.
quarta-feira, 23 de julho de 2014
futuro
a mão da consciência era impiedosa, cruel, provocava o peso da recordação, mas o coração estava começando a ficar leve, ciente de tudo o que havia feito e de alma lavada pelas lágrimas. estava pronto e livre para proporcionar a si mesmo a felicidade. já não se importava com a aceitação ou restrição de outrem, atrás dos montes existia uma população inteira que lhe ofertaria abraços verdadeiros, carinhos e amor. era só atravessar o caminho mais uma vez, sozinho nunca estaria, nunca foi dado a solidão. ficaria sob tutela do exército das escolhas, as certas, dessa vez.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
estava quebrando a cabeça mais uma vez. teimava em ser x, mas era y. não queria ser menos do que podia ser. mas... ser para que? o lugar que não lhe cabia, ou lhe coubera estava traçado e de tanto que lhe impuseram, se reservou ao pequeno quadrado apenas, e nunca mais foi útil a alguém. nem a si mesma.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
capítulo 1, versículo 0
perdeu a mão dos ouvidos e em seguida não tinha mais dedos para fazer escolhas
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
2:1
para ter um lugar cativo no topo da lista é preciso pequenos mimos, é preciso marcar e esquentar o lugar. ter o gosto pela sensibilidade de quem não deixa faltar o trato, o toque, a despedida...o abraço. é preciso proporcionar trocas, entregas, novidades. é preciso se fazer presente ainda que se falte, é preciso não permitir lacunas no instante dos contratempos. o trânsito precisa ser em via dupla. é preciso se despir das vaidades para se vestir de afeto. é preciso dividir-se para aprender a somar.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
sem valor
nem toda dedicação do mundo mereceria perdão diante do erro. o erro não vale nunca, não vale nada. não se pode errar, faltar, quebrar, sobrar, trincar. e eu não valho. não valho porque sou humano, porque um corte me fere, porque os meus olhos choram, porque tenho secreção quando gripo, porque não respiro bem. não valho se falto ao trabalho, se digo verdades, valerei menos ainda quando mentir. valho menos pra alguém todo dia. não valho porque os meus meios nunca justificarão os fins. eu não valho o quanto peso porque as minhas respostas não inspiram confiança...não são documentos timbrados. não valho porque não posso fingir o gozo, porque o meu doce melou. não valho por ter o ferro que fere nas feridas, por perdoar em sinônimo de fraqueza, por ser posto em doação sem valor de moeda. o poder de valia alheia quase sempre terá mais peso. a grama do vizinho ainda poderá ser mais verde, valerá por grama, quilo, tonelada. a minha grama é quase árida, é peso morto, nunca há de valer. não caibo em vida morna, não suporto a agonia, não vivo em oração. sou todo sentimento e palavras que nunca valerão um livro escrito ou uma linha recitada. o meu presente jamais poderá ser ganho por mim:quem não vale, não ganha. ele também jamais poderá ser conjugado.os meus verbos não tem terminações, não são ações ou definições, pouco custam, nada valem. estão todos presos no infinitivo de uma memória sem valor.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
classificados
tenho um arrepio na alma que parece não passar. tenho a pele frágil ao toque, um coração ansioso por amores quentes que aqueçam a pele durante todas as estações. se me pegar leva. se me pescar, posso escorregar. necessito de mãos acolhedoras que me envolvam e que se anunciem sem palavras.gosto dos tons fortes da terra, mas não da sua consistência, prefiro a rigidez do concreto. admiro a permissividade do que deixa gosto, e de quem se dá com gosto. gosto do cheio, do muito, as vezes do excesso, só pra não deixar faltar. gosto dos líquidos, fluídos e de tudo que possa migrar de um ser para o outro. gosto de quem se permite e se deixa ouvir o som de sua respiração. tenho um desejo eloquente pelos ritmos do corpo; batimentos cardíacos, piscadas por minuto, quantidade de suor na pele durante as emoções, crescimento de cabelos, unha, barba. gosto dos sintomas de crescimento. do que se assemelha a todos sem ser igual.
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