quarta-feira, 2 de maio de 2012

açúcar

quando saiu pra enlouquecer não lembrou que tinha de produzir passos, esqueceu que precisava se locomover sem se amparar. o estado era àquele: dois a rodar. passos no vazio, cabeça a girar. memória pouca, risada solta. agora volta a caminhar numa linha reta meio cubista. lembra da geléia verde absorvida no café da manhã (…) náusea. volta aos passos de bebê esquecidos na infância, mas que ainda cabem dentro do adulto tropego. o gosto amargo na boca sabor estomago denuncia a hora de deixar para trás parte daquela alegria líquida e psicodélica que não quer caber dentro de si; e ela sobe garganta acima num jato, na explosão de um gozo: é verde. no corpo o renascimento, no copo a última dose. na cabeça o coração pulsante a bombear todos os membros que oscilavam entre minguar e dilatar. mal sabia que aquelas bombeadas tinham cheiro, barulho e a sensação da falta de doce. neste instante queria apenas o açúcar para (re)lembrar do sabor que a vida tinha.