terça-feira, 7 de outubro de 2008

07/10


eu me lembro que meu pai sempre dava tudo a ele - o mundo se possível - mas este mundo sempre vinha através dos objetos que ele mais gostava. uma hora era a bicicleta, em outra aquela mochila de marca que tanto queria. ele sempre foi diferente, era doce e meigo, apesar de um tanto mal-humorado. em comum tínhamos apenas o signo e a proximidade dos aniversários. com o tempo vimos crescer a doçura que ele herdou da minha mãe.

quando éramos pequenos, antes de dormir, havia um ritual. deitávamos na mesma cama, mas em direções opostas e um dos dois sempre iniciava uma briguinha com os pés. um dia eu, outro dia ele. a medida era contar até cem, aí a nossa guerra acabava.

uma irmã mais velha, e três irmãos mais novos: coube ao Allan ser o filho do meio, assim como eu. aquele que fazia do sorriso o caminho entre um lado e outro da família. vivia tão perto da minha mãe que tinha um truque secreto que o fazia também próximo ao meu pai. mas o elemento proximidade foi uma coisa que ele sempre conseguiu em qualquer lugar que estivesse sem nenhum esforço.

ao longo do caminho, vivemos histórias diferentes. por conta das nossas escolhas, as nossas distancias... a sua foto na carteira sempre esteve aqui, ainda que às vezes soasse apenas como lembrança.

três anos exatos nos separam. ele se casou aos 25, eu, fazendo 25, ainda não me casei. ele teve uma só namorada e se casou com ela, eu que tive mais que 3 ainda não me casei. ele não tem filhos, mas sonha muito em tê-los. já eu ... não posso dizer. ele tem a doçura que ainda procuro em mim.

o tempo passou e nos fez perder muitas coisas pelo caminho. as nossas birras e diferenças também se foram. por um momento fomos de gerações quase distintas. hoje não somos mais. temos os nossos vinte e poucos anos e que seja assim, para sempre. a vida nos deu um para o outro e descobrimos tanto em comum.

desde que ele saiu de casa, quando nos vemos, as despedidas ficaram maiores e os abraços e beijos se tornaram tão compridos... maiores e mais longos que de costume, mas nunca dizemos nada porque quase nunca é preciso. os gestos falam por nós.

com cada irmão é uma história de amor. a nossa é assim.

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